Festival desafia cineastas a mostrar uma cidade em um minuto
O Festival do Minuto, que começa hoje no Masp, prova que em 60 segundos é possível apresentar grandes ideias.
Dá para contar a história de uma vida em um minuto? E de uma cidade? Dá para definir uma cidade em apenas um minuto? Tem gente que acha que é muito. Tem gente que acha que é pouco. Dá para fazer um filme em um minuto. O Festival do Minuto, que começa hoje no Masp, prova que em 60 segundos é possível apresentar grandes ideias. Discutir nossas cidades, nossas escolhas de futuro. Um minuto pode ser o tempo de uma vida.
É uma exposição onde tudo é uma questão de tempo. Diante da tela, a história da nossa vida na cidade é curta: só dura um minuto. Tempo suficiente para mostrar nossas esperas, nossos apertos, nosso retrato em cima de um caminhão.
Nossos sons em movimento, nossa passagem da janela, o céu que passa correndo. É uma exposição como uma sinfonia inacabada, os sons se atravessam em novas sintonias. Um homem caminha entre palavras, atravessa passagens, calçados, bicicletas, mas anda de cabeça baixa, alheio a significados. Chovem palavras na terra da garoa.
É uma exposição onde a cidade é imaginada, é criada de novo. Um fragmento da cidade é também a cidade inteira? Ficar imóvel como a estátua do poeta em Copacabana faz de nós um pouco poetas? Um barco nos salvará dos tubarões e da nossa solidão?
O videografista Daniel Mantovani não pensava nisso, via a cidade de dentro do ônibus e ela era vermelha: “Você sendo transportado que nem carga pelo motorista, porque os caras te transportam desse jeito, você se sente uma carga dentro do ônibus, ainda mais no horário de 17h30, 18h. Na hora que eu filmei, o ônibus está cheio, a cidade está parada”.
O olhar de Daniel sobre São Paulo é um dos 62 vídeos de um minuto selecionados entre todo o acervo do Festival do Minuto, criado em 1991.
“A ideia de fazer uma exposição com relação à cidade é porque a cidade está ficando um bicho complicado. Aquela coisa de direito de ir e vir se faz referência à palavra em uma época de guerra civil, de golpe de estado. Agora essa palavra começou a ter uma dimensão no nosso cotidiano sem estarmos vencendo uma guerra. Criamos até uma categoria que é a "nanominutos". Vídeos de até 10 segundos para a turma não ficar repetindo uma ideia. Como ela é boa, tem que passar e ir embora. É um formato superadequado para economia de atenção que temos hoje, de excesso de coisa. É um formato que veio para ficar”, comenta o curador e criador do festival Marcelo Masagão.
Quem quiser, pode enviar vídeos durante o período em que a mostra estiver em cartaz, até 9 de maio. Nós que trabalhamos em TV sabemos bem que dá para contar muitas histórias em um minuto. Por exemplo, desde que essa reportagem começou até agora se passaram mais ou menos três minutos. E olha de quanta coisa nós já falamos...
Informações sobre o Festival Período: de 11 de março a 9 de maio de 2010 Horários: de terças a domingos e feriados, das 11h às 18h. Às quintas, das 11h às 20h. Ingressos: R$ 15. Estudantes pagam R$ 7. Gratuito até 10 anos e acima de 60 anos.